Sempre fui muito agitada. 220 V.
Além disso, sou perfeccionista, quero sempre dar conta de tudo. Quando morava no Brasil eu era mãe, faxineira, cozinheira, contadora, esposa, amante, amiga... Como milhares de mulheres são, mil e uma utilidades.
Meu marido viajava por tempos extensos, ficava semanas fora. E eu não dirigia , tinha esse bloqueio, ou seja, minha rotina ficava um pouquinho mais difícil, tendo que realizar tudo isso, com filha pequena e de ônibus, numa cidade onde não tínhamos pra quem gritar, com exceção de alguns amigos muito íntimos.
Um dia, acordei e dei defeito.
Mas defeito mesmo.... Comecei a ter taquicardia, vi que alguma coisa estava errada. Meu marido tinha chegado no dia anterior de uma viagem ao exterior, e estava desmaiado no quarto. Minha filha estava na sala, vendo desenhos. E eu comecei a ficar atenta no que estava acontecendo. Em poucos minutos, foi evoluindo. Falta de ar, minhas mãos suavam, pensei que estava ficando sério e chamei meu marido.
Enquanto ele se arrumava pra me levar no PS, começou a formigar tudo, aí entrei em desespero. No caminho até o hospital, não sentia minhas pernas, minhas mãos e meu rosto formigavam. Tive a certeza que era algo BEM sério e comecei a pedir pro meu marido cuidar da minha filha se acontecesse algo (detalhe que ela nos acompanhava no carro....)
Entrei no hospital a "La Greys Anatomy". Cadeira de rodas, enfermeiros, não preenchi nem ficha.
Tinha mil pessoas me atendendo e tive muita, muita sorte em conhecer o Dr. , que por sinal estava em seu primeiro dia de atendimento. Ele , depois de 20 minutos de pessoas me examinando, me disse: Tudo bem? E eu....Como tudo bem? Estou morrendo....Pode falar, o que eu tenho!? Foi ataque cardíaco? Ele ....NÃO FOI NADA. Oi? Enlouqueci?
Ele calmamente me respondeu : Isso mesmo, não foi nada. Está tudo absolutamente normal. Você teve uma Crise de Pânico. Sabe, você está guiando sua vida a 500 km/h, então tem que optar em desacelerar, e admirar a paisagem do mundo, OU, sofrer um possível acidente no seu percurso...Como esse que você acabou de ter.
Eu não digeri aquilo, pra mim, eu tinha alguma coisa séria e ele estava escondendo de mim. (isso explica eu ter marcado consultas com TODOS os especialistas depois de que tive minha primeira crise.). Eu não sabia nada de crise do pânico, absolutamente nada.
Ele me receitou um calmante e me encaminhou a um psiquiatra. Me deu dias de descanso do trabalho.
Eu? Não tomei o calmante, me recusava, tinha 30 anos! Não ia usar tarja preta. Não busquei por um psiquiatra e rasguei o atestado, porque a empresa estava com mil problemas e eu não podia me dar o luxo de ficar em casa. (e no fundo pensava que seria pior ficar em casa. Daria tempo de ter a crise.)
Será que isso deu certo?
Sofri muito. Tive muitas outras crises, talvez até piores que essa primeira. Tive crise em casa, na praia, no ônibus, no trabalho, no avião, num jogo de basquete, no carro....
E tinha medo de ter a crise, acho que essa foi a pior parte. O medo de que tudo acontecesse outra vez.
Mas resolvi encará-la de frente: li tudo a respeito, todos os artigos, todos os livros. Pois se todos os exames físicos me indicavam que eu não tinha nada, me negava a tomar remédio. Iria curar esse excesso de ansiedade, de outra forma. Não parei de trabalhar, tive várias crises no trabalho, onde minha chefe, me levava na sala de reunião e ficava 20 minutos comigo, calada, até passar. Porque passa.
E meu marido sempre foi calmo e me dava a mão, até eu me acalmar. Descobri amigos que sofriam do mesmo mal e me davam "tips" de como lidar, grudei nos que são psicólogos, tipo aquele socorro via mensagem de celular....rs.
Eu sei que tem gente que não consegue, que precisa de medicamento. Mas graças a Deus eu não precisei.
É muito MUITO difícil, e eu tenho MUITO orgulho de mim mesma, porque cada dia fui conseguindo mais pequenas vitórias: entrar no ônibus (que sofrimento!), esperar os 20 min de taquicardia sem se desesperar, saber identificar a crise.
E hoje estou aqui, mais de um ano sem crise alguma e SEM MEDICAMENTOS. Só a força de vontade.
:)
Wrote by Melissa Lima